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PARADOXO SOBRE RODAS
PARADOXO SOBRE RODAS * Adilson Luiz Dirigentes do setor automobilístico comemoram: ?Vai ter carro para todo mundo!?. E tudo contribui para isso, concorrência, estabilidade econômica e condições de financiamento altamente atraentes para os incautos: até 60 meses! Isso é bom: atrai investimentos, gira o capital, gera empregos... E o produto melhorou! Não são mais as ?carroças? dos tempos de Collor: são veículos modernos, com os mais variados e sofisticados acessórios, inclusive piloto automático e GPS, itens indispensáveis para o motorista se achar, psicologicamente ou no sistema viário, mesmo que fique parado, como qualquer ?pau velho?, nos congestionamentos das cidades. Aí, só o ar condicionado é útil. Tudo favorece esse quadro, até a proliferação de construções residenciais com 3 ou mais vagas de estacionamento por unidade. Para que tantos carros? Será só por status? Os governos se aproveitam ao máximo dessas ?tendências?: IPI, ICMS, licenciamento, IPVA, Seguro Obrigatório, ISS, estacionamento regulamentado, multas... E querem mais: inspeção veicular, ?chip? de licenciamento... Essa pujança do mercado de novos também aquece o mercado de usados: O modelo neoliberal de mercado incentiva ao empreendedorismo, principalmente no setor de prestação de serviços. Assim, carros usados são transformados em oficinas móveis, que circulam precariamente pelas ruas. Em alguns países esses veículos são sobretaxados. Aqui, são praticamente isentos de tributação; tolerados em função de uma situação social em que se tornam meio de subsistência. Com isso a quantidade de veículos aumenta e impacta todo o sistema viário urbano: congestionamentos; horário de carga e descarga restrito; filas duplas ou triplas na porta de escolas, pessoas mortas nas ruas ou mesmo dentro de ambulâncias. Mas para o mercado situações caóticas, aliadas à competitividade selvagem, justificam os meios: são oportunidades! Assim, se o carro não anda, a solução é a moto. E o mercado de motos também está aquecido. O serviço de entrega é pago por produtividade: quanto mais entregas, mais dinheiro! Aí vale tudo: passar onde não há espaço, ultrapassar pela direita, costurar, fechar, andar na contramão, manobrar sem dar sinal... ?Se vira! Se você não fizer, a gente arruma quem faça!?. Já estamos exportando essa ?tecnologia?! Com tudo isso o trânsito também fica ?aquecido?: o calor aumenta, o motor esquenta e a cabeça pode ferver. Isso não é motivo de comemoração nenhuma! Então, depois de arrecadar nas causas sem se preocupar com as conseqüências, alguns governos acenam com a solução mágica: o rodízio! Mas, e os compromissos e prazos? Nem tudo dá para fazer pela Internet! E mesmo que desse, quase tudo hoje é ?delivery?. Só que brasileiro sempre dá um jeitinho: compra um carro usado com outro final de placa e vai à luta! É verdade que os governos incentivam ao uso de bicicletas, constroem ciclovias em avenidas, suprimem vagas de estacionamento, ?cercam o frango?, digo, o carro por todos os lados. E dá-lhe multa! É como se dissessem: ?Compre carro, mas não use!?, ou, então: ?Bem feito!?. Mas nem tudo dá para fazer com bicicleta. Além disso, há locais suficientes para estacioná-las? E como punir os ciclistas infratores? Campanhas incentivam ao uso de transporte coletivo, mas, apesar da variedade de meios, eles não atendem à demanda e às expectativas de regularidade e conforto de todos os usuários. Se há verdadeiramente intenção de mudar uma ?cultura?, o correto seria subsidiar o preço das passagens. Mas, não! Elas são regularmente aumentadas. O transporte solidário, ou melhor, racionalizado seria outra alternativa: em vez de quatro pessoas em quatro carros, todas em um único. Mas já se foi o tempo dos horários certos para entrar e sair do emprego. E nem todo mundo vai do trabalho para casa. Às vezes vai estudar ou trabalhar em outra atividade, senão não dá para ascender profissionalmente, nem pagar todas as despesas do orçamento doméstico. Pois é... Tudo isso é um imenso paradoxo político, econômico e social. Insolúvel? Não sejamos tão pessimistas. Mas, que está cada vez mais difícil conciliar os interesses do mercado com a qualidade de vida nas cidades, ah, isso está! * Adilson Luiz Gonçalves é escritor, Engenheiro, cursando Mestrado em Educação. ...


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